terça-feira, 28 de junho de 2022

ENXAQUECA (MIGRÂNEA)


1. Informações fundamentais e conceitos


Transtorno neurovascular incapacitante recorrente caracterizado por ataques de dor debilitante associada a fotofobia, fonofobia, náuseas e vômitos. Relacionada pela OMS como uma das principais causas de perda de dias de trabalho por incapacidade no mundo. Um terço dos pacientes apresentam aura migranosa, e 2/3 dos pacientes não apresentam aura.


2. Fisiopatologia


Parece haver um papel principal para peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) como um mediador de enxaqueca, pois o CGRP é liberado na circulação durante uma crise de enxaqueca e está persistentemente elevado em pacientes com migrânea crônica. É sabido que ocorre perturbação dos sistemas de modulação sensorial subcortical. É um distúrbio que envolve o sistema trigeminovascular e suas conexões. Os reflexos autonômicos cranianos, como o reflexo trigêmino-autonômico, atuam como um sistema de alimentação que facilita a ocorrência da crise de enxaqueca. O problema fundamental da enxaqueca parece se relacionar, portanto, a sistemas de modulação de percepção dolorosa no cérebro.


3. Diagnóstico e critérios diagnósticos


Os critérios diagnósticos mais usados são da Classificação Internacional das Cefaléis, 3a edição (ICHD-3), quais sejam:


Quadro 2  Critérios diagnósticos de aura da migrânea
Definição
Ataques recorrentes, com duração de minutos, de sintomas visuais, sensoriais ou outros sintomas do SNC unilaterais totalmente reversíveis que geralmente se desenvolvem gradualmente e são geralmente seguidos por dor de cabeça e sintomas de enxaqueca associados
Critérios diagnósticos:
 A. Pelo menos dois ataques atendendo aos critérios B e C
 B. Um ou mais dos seguintes sintomas de aura totalmente reversíveis: 1. visual; 2. sensorial; 3. fala e/ou linguagem; 4. motor; 5. tronco cerebral; 6. retiniana
 C. Pelo menos três das seguintes seis características: 1. pelo menos um sintoma de aura se espalha gradualmente ao longo de ≥5 minutos; 2. dois ou mais sintomas de aura ocorrem em sucessão; 3. cada sintoma de aura individual dura de 5 a 60 minutos; 4. pelo menos um sintoma de aura é unilateral; 5. pelo menos um sintoma de aura é positivo; 6. a aura é acompanhada, ou seguida em 60 minutos, por dor de cabeça.
 D. Não melhor explicado por outro diagnóstico da ICHD-3.
Classificação Internacional das Cefaleias, 3a. edição


Quadro 3  Critérios diagnóstico de migrânea sem aura
Descrição
 Transtorno de cefaléia recorrente que se manifesta em ataques que duram de 4 a 72 horas. As características típicas da cefaleia são localização unilateral, qualidade pulsátil, intensidade moderada ou intensa, agravamento pela atividade física rotineira e associação com náuseas e/ou fotofobia e fonofobia.
Critérios diagnósticos
A. Pelo menos cinco ataques atendendo aos critérios B-D
 B. Ataques de dor de cabeça com duração de 4-72 horas (não tratada ou tratada sem sucesso);
 C. A dor de cabeça tem pelo menos duas das quatro características a seguir:
1. localização unilateral;
2. qualidade pulsante;
3. intensidade da dor moderada ou severa
4. agravamento por ou evitação de atividade física de rotina (por exemplo, caminhar ou subir escadas)
 D. Durante a dor de cabeça, pelo menos um dos seguintes:
1. náusea e / ou vômito
2. fotofobia e fonofobia
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico de ICHD-3.
Classificação Internacional das Cefaleias, 3a. edição



4. Achados complementares


Não são necessários exames complementares para o diagnóstico de migrânea. Na suspeita de um diagnóstico alternativo (cefaleia secundária, por exemplo), um exame de neuroimagem pode ser solicitado.



5. Tratamento 


O tratamento farmacológico é didaticamente classificado em tratamento da crise (agudo) e tratamento profilático. No tratamento agudo, se usam anti-inflamatórios não-esteroidais (AINES), analgésicos comuns (isolados ou combinados) e triptanos. No tratamento profilático, são opções costumeiramente utilizadas: topiramato, valproato, antidepressivos tricíclicos, propranolol. 

Mais recentemente, os anticorpos monoclonais anti-CGRP foram adicionada à classe dos medicamentos profiláticos para migrânea, sob a forma de injeções subcutâneas. São opções dessa classe, aprovadas pela ANVISA: galcanezumabe, erenumabe e fremanezumabe.

Em casos de migrânea crônica, ou seja, com episódios de cefaleia por mais de 15 dias por mês (por no mínimo 2 meses), injeções de toxina botulínica, conforme o protocolo do estudo PREEMPT, podem ser opções terapêuticas.




6. Referências



Charles A. The pathophysiology of migraine: implications for clinical management. Lancet Neurol. 2018 Feb;17(2):174-182. doi: 10.1016/S1474-4422(17)30435-0. Epub 2017 Dec 8. PMID: 29229375.

Headache Classification Committee of the International Headache Society. The International Classification of Headache Disorders. Cephalalgia. 2018; 38 (3rd edition): 1-211