terça-feira, 28 de junho de 2022

DOENÇA DE HUNTINGTON

 1. Informações fundamentais (conceitos)

A doença de Huntington (DH) é uma doença neurodegenerativa progressiva hereditária caracterizada por transtornos do movimento, problemas comportamentais e demência. É causada por uma expansão da repetição do trinucleotídeo citosina-adenina-guanina (CAG) no gene da huntingtina (HTT/IT5) no cromossomo 4p, com herança de padrão autossômico dominante.  A prevalência mundial de DH é de 2,7 casos por 100.000 habitantes. A idade de início varia da infância até a oitava década, mas é mais comum na meia-idade. O diagnóstico antes dos 20 anos de idade é considerado DH juvenil, ou a variante Westphal da DH.


2. Fisiopatologia


A patologia envolve principalmente o sistema nervoso central (SNC), com atrofia do caudado e do putâmen (neoestriado), onde é mais proeminente. No nível celular, os agregados de proteína huntingtina são citoplasmáticos e nucleares. A fisiopatologia da perda de neurônios não é completamente compreendida. Acredita-se que a proteína huntingtina se torne tóxica com a expansão CAG (com "ganho de função"), mas continua a cumprir uma função crítica para a sobrevivência neuronal no início do desenvolvimento.

A idade de início é fortemente influenciada pelo número de repetições CAG no gene da huntingtina. 


3. Diagnóstico e critérios diagnósticos


A coreia é uma característica fundamental da DH e o sintoma que a define no momento do diagnóstico, na maior parte das vezes. A coreia é caracterizada por movimentos breves, abruptos, aleatórios, imprevisíveis, involuntários e não estereotipados, que fluem de uma parte do corpo a outra, envolvendo a face, tronco e membros.

São sinais clínicos clássicos: hipotonia, reflexo tendinoso do tipo hung-up, sinal da ordenha (milk-maid sign), e impersistência motora. Há aumento da latência de sácades mesmo em fases iniciais, pré-clínicas.

Um grupo de trabalho da Movement Disorders Society publicou recentemente uma proposta para novos critérios diagnósticos para 3 categorias de doença de Huntington, incluindo doença de Huntington manifestadoença de Huntington pré-sintomática e doença de Huntington prodrômica.

O período proposto como “DH pré-manifesta” ocorreria antes do início de sintomas diagnosticáveis, e inclui tanto o período de “DH pré-sintomática”, quando não há características clínicas detectáveis, e o período de" DH prodrômica", quando há mudanças sutis na função motora e cognitiva (e muitas vezes também em aspectos psiquiátricos), com consequentes mudanças sutis nas habilidades funcionais. Durante o período que foi chamado de "DH manifesta", as características motoras e cognitivas progridem e as capacidades funcionais diminuem.


4. Achados complementares


A característica mais marcante e conhecida é a atrofia da cabeça do caudado, na ressonância magnética. Há também, no entanto, perda proeminente de volume putaminal bem observável na morfometria, especialmente em pacientes mais jovens. A combinação de ambas as atrofias resulta no alargamento dos cornos frontais dos ventrículos laterais, muitas vezes dando-lhes uma configuração semelhante a uma "caixa.

O alargamento dos cornos frontais pode ser quantificado com medidas de:

- razão entre largura do corno frontal e distância intercaudados;

- razão entre distância intercaudados e largura da tábua óssea interna; 

Em alguns casos, os núcleos da base podem apresentar hipossinal T2 e blooming na sequência SWI, a depender do grau de deposição de ferro. 

Há perda generalizada de volume cortical, acima do esperado para a idade.