quarta-feira, 29 de junho de 2022

Bateria Neuropsicológica Computadorizada de Cambridge (CANTAB) e o uso de testes cognitivos computadorizados

 

Uma das consequências do envelhecimento populacional é o aumento do foco na manutenção da saúde cognitiva. Para sermos capazes de melhor entender o envelhecimento cognitivo normal e patológico, necessitamos de bons instrumentos, capazes de aferir as habilidades cognitivas durante todo o curso da vida, considerando a interação de fatores socio-demográficos com os processos cognitivos, por exemplo.

Desde o advento das avaliações neuropsicológicas clínicas, essas avaliações têm sido realizadas usando testes tipo papel e caneta. Está ficando claro, no entanto, que existem inúmeros benefícios na incorporação de tecnologias digitais na avaliação, com o potencial de minimizar a disponibilidade de tempo de pessoal especializado, otimizar os custos, reduzir o tempo de aplicação dos testes, além de  melhorar reprodutibilidade inter-examinadores. Os testes computadorizados também tem potencial de utilizar um sistema de correção automatizado, ou mesmo alcançar comunidades com maior disparidade de acesso a serviços de saúde. Apesar do entusiasmo nesse campo da avaliação eletrônica, ainda há desafios a serem superados, especialmente relacionado a o uso de testagem remota (em smart-phones ou em computadores pessoais), quanto, por exemplo, à captura imprecisa de tempos de reação.

Há uma lista crescente de ferramentas de avaliação cognitiva remota, porém a maioria foi desenvolvida para a língua inglesa. Muitos deles envolvem a aplicação baseada em tablets, que tem sido preferidos devido à interação direta e intuitiva, menos demandas motoras, e relativa facilidade de uso. A variedade de testes disponíveis, com evidências psicométricas de validade, é grande, permitindo uma implementação flexível dessas ferramentas, a depender da questão clínica e das necessidades da população de interesse. Abaixo descrevemos uma dessas ferramentas, que reúne várias características interessantes, a CANTAB.

A Cambridge Neuropsychological Test Automated Battery (CANTAB) é uma bateria de avaliação neuropsicológica computadorizada originalmente escrita e desenvolvida por Barbara Sahakian, Trevor Robbins e colegas da Universidade de Cambridge na década de 1980. Atualmente é comercializado por uma empresa inglesa chamada Cambridge Cognition.

Todos os testes desta bateria são informatizados, apresentados em tela sensível ao toque (touch-screen), de forma padronizada, com o resultado gravado instantaneamente. Sua fácil administração permite sua aplicação em diferentes amostras, como pacientes com doenças neurodegenerativas, com pouca alteração no procedimento padrão. Também pode ser usado com diferentes faixas etárias, pois foi validado em estudos com populações de 4  90 anos.

A bateria CANTAB possui módulos para avaliar várias funções e processos neurocognitivos, incluindo velocidade psicomotora e motora, habilidades de raciocínio e planejamento, memória e atenção e disfunções frontais, temporais e hipocampais. Permite avaliar disfunções neurocognitivas associadas a distúrbios neurológicos, efeito de manipulações farmacológicas. Os testes são independentes do idioma, da cultura e não são sensíveis ao gênero. Versões paralelas desses testes podem ser usadas para avaliações subsequente, minimizando o efeito de aprendizado.


Referências:

Barnett JH, Blackwell AD, Sahakian BJ, Robbins TW. The Paired Associates Learning (PAL) Test: 30 Years of CANTAB Translational Neuroscience from Laboratory to Bedside in Dementia Research. Curr Top Behav Neurosci. 2016;28:449-474. doi:10.1007/7854_2015_5001

Robbins TW, James M, Owen AM, Sahakian BJ, McInnes L, Rabbitt P. Cambridge Neuropsychological Test Automated Battery (CANTAB): a factor analytic study of a large sample of normal elderly volunteers. Dementia. 1994;5(5):266-281. doi:10.1159/000106735

Robbins TW, James M, Owen AM, et al. A study of performance on tests from the CANTAB battery sensitive to frontal lobe dysfunction in a large sample of normal volunteers: implications for theories of executive functioning and cognitive aging. Cambridge Neuropsychological Test Automated Battery. J Int Neuropsychol Soc. 1998;4(5):474-490. doi:10.1017/s1355617798455073