segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Oftalmoplegia internuclear: um sinal neurológico discreto e informativo *


    A oftalmoplegia internuclear (OIN) é um sinal neurológico específico, que envolve o olhar conjugado horizontal, caracterizado por fraqueza da adução do olho afetado e nistagmo horizontal em abdução do olho contralateral. Seu substrato neuroanatômico é a lesão de estrutura localizada no tegmento dorsomedial pontomesencefálico, denominada fascículo longitudinal medial. É uma via interneuronal que coordena, conjuntamente com a formação reticular pontina paramediana, os núcleos dos nervos III, IV e VI.  É um sinal comumente associado, em jovens, à esclerose múltipla (34-42%) e, em idosos, a acidentes vasculares encefálicos lacunares do tronco encefálico (38-41%). É achado, menos frequentemente (9-13%), em: tumores do tronco, infecções do SNC e trauma crânio-encefálico.
    A figura abaixo representa a circuitaria cerebral/central que comanda o olhar conjugado horizontal. É uma adaptação feita por mim do artigo de Frohman et al (1).



História da descrição do sinal


    A primeira descrição do núcleo do VI como centro de movimentação ocular conjugada foi feita pelo neurologista Achille-Louis Foville, em 1859, ocasião em que também postulou a coordenação do olhar conjugado horizonta por uma via cruzada ponto-mesencefálica. Somente no século seguinte, em 1921, Jean Lhermitte (1877-1959) confeccionou o termo oftalmoplegia internuclear. Em 1924, Spiller publicou o primeiro caso anatomo-clínico, no qual reconheceu apenas 8 descrições anteriores de OIN. Na década de 50, o oftalmologista David Glendenning Cogan (1908-1993), da Universidade de Harvard, descreveu uma série de 08 casos, com 01 estudo anatomo-patológico. Esse pesquisador acumularia uma série de cerca de 200 casos até 1970 e é o responsável pela descrição dos detalhes semiológicos da síndrome, classificando a OIN em anterior e posterior, conforme comprometimento ou não da convergência ocular.
       Abaixo é possível ver uma linha do tempo relacionando esses marcos históricos da descrição do sinal.






Para aprender mais sobre o assunto, recomendo os seguintes artigos:





* este trabalho foi apresentado na XII Jornada do Hospital Universitário de Brasília, sob a forma de poster.